quarta-feira, 15 de julho de 2009


A Lenda Pessoal
Paulo Coelho

- O que é a Lenda Pessoal?- É a sua benção, o caminho que Deus escolheu para você aqui na Terra. Sempre que um homem faz aquilo que lhe dá entusiasmo, está seguindo sua Lenda. Acontece que nem todos têm coragem de enfrentar-se com os próprios sonhos.- Por que razão?- Existem quatro obstáculos. O primeiro obstáculo: ele escuta, desde criança, que tudo o que desejou viver é impossível. Cresce com essa idéia, e a medida que acumula anos, acumula também camadas de preconceitos, medos, culpas. Chega um momento em sua Lenda Pessoal está tão enterrada em sua alma, que não consegue mais vê-la. Mas ela permanece ali. "Se ele tem coragem de desenterrar seus sonhos, então enfrenta o segundo obstáculo: o amor. Já sabe o que deseja fazer, mas pensa que irá ferir aqueles que estão à sua volta, se largar tudo para seguir seus sonhos. Não entende que o amor é um impulso extra, e não algo que o impede de seguir adiante. Não entende que aqueles que realmente lhe desejam bem, estão torcendo para que seja feliz, e estão prontos para acompanha-los nesta aventura."Depois de aceitar que o amor é um estímulo, o homem está diante do terceiro obstáculo: o medo das derrotas que irá encontrar em seu caminho. Um homem que luta pelo seu sonho, sofre muito mais quando algo não dá certo, porque não tem a famosa desculpa: "ah, na verdade eu não queria bem isso..." Ele quer, sabe que ali está apostando tudo, e sabe também que o caminho da Lenda Pessoal é tão difícil como qualquer outro caminho - com a diferença que nesta jornada está o seu coração. Então, um guerreiro da luz precisa estar preparado para ter paciência nos momentos difíceis, e saber que o Universo está conspirando a seu favor, mesmo que ele não entenda.- As derrotas são necessárias?- Necessárias ou não, elas acontecem. Quando começa a lutar por seus sonhos, o homem não tem experiência, e comete muitos erros. Mas o segredo da vida é cair sete vezes, e levantar-se oito vezes. - Por que é tão importante viver a Lenda Pessoal, se vamos sofrer mais que os outros?- Porque, depois de superada as derrotas - e sempre as superamos - nos sentimos com muito mais euforia e confiança. No silêncio do coração, sabemos que estamos sendo dignos do milagre da vida. Cada dia, cada hora, é parte do Bom Combate. Passamos a viver com entusiasmo e prazer. O sofrimento muito intenso e inesperado termina passando mais rápido que o sofrimento aparentemente tolerável: este se arrasta por anos, e vai corroendo nossa alma sem que percebamos o que está acontecendo - até que um dia já não podemos nos livrar da amargura, e ela nos acompanha o resto de nossas vidas. - E qual é o quarto obstáculo?- Depois de desenterrar seu sonho, usar a força do amor para apoiá-lo, passar muitos anos convivendo com as cicatrizes, o homem nota - do dia para a noite - que o que sempre desejou está ali, a sua espera, talvez no dia seguinte. Então vem o quarto obstáculo: o medo de realizar o sonho pelo qual lutou toda a sua vida. - Isso não faz o menor sentido. - Oscar Wilde dizia: "a gente sempre destrói aquilo que mais ama". E é verdade. A simples possibilidade de conseguir o que deseja faz com que a alma do homem comum encha-se de culpa. Ele olha a sua volta, e vê que muitos não conseguiram, e então acha que não merece. Esquece tudo o que superou, tudo que sofreu , tudo que teve que renunciar para chegar até onde chegou. Conheço muita gente que, ao ter a Lenda Pessoal ao alcance da mão, fez uma série de bobagens e terminou sem chegar até seu objetivo - quando faltava apenas um passo."Este é o mais perigoso dos obstáculos, porque tem uma certa aura de santidade: renunciar à alegria e à conquista. Mas se o homem entende que é digno daquilo pelo qual lutou tanto, então ele se transforma num instrumento de Deus, ajuda a Alma do Mundo, e entende por que está aqui".

quinta-feira, 2 de julho de 2009


UMA FORÇA BEM DIVERSA
Juliana Almeida Dutra

Uma força bem diversa Homens e mulheres pensam diferente, não comparam pelas mesmas razões e não se comunicam da mesma forma, mas isso é produtivo e soluciona
Qual é a sua concepção de talento? Se talento for descrito como "habilidade com as palavras; capacidade para entender indiretas não verbalizadas; sensibilidade emocional; empatia; paciência; aptidão para fazer e pensar diversas coisas ao mesmo tempo; propensão para planejamento a longo prazo; dom para integração e negociação; predição por cooperação; obter consenso e liderar por meio de equipes igualitárias", você concordaria?
E se eu disser que essas características foram extraídas do livro de Helen Fisher The first sex: the natural talents of women and how they are changing the world, que trata dos talentos inerentes às mulheres e de como as tendências sugerem que muitos setores da comunidade econômica do século 21 precisarão, num futuro muito próximo, dessas características congênitas femininas? Você ainda concordaria que podemos definir talento a partir delas?
Independentemente da resposta, continue lendo este texto, pois não se trata de um direcionamento feminista, mas de uma preocupação com a mudança de valores que podem resgatar as empresas dos dias difíceis como os que estamos vivendo nos últimos meses.
A crise não nos tirou apenas resultados financeiros e de performance; tirou principalmente o sonho de prosperidade em que estávamos vivendo. Não podemos negar que alguns empresários transformaram o problema em oportunidade e aproveitaram a turbulência para justificar erros antigos e como motivo para demissões, cortes de orçamento e até o fechamento de empresas - mas não iremos tratar disso, mas sim propor uma mudança e não mostrar o que no fundo todos nós sabemos.
Essa mudança não pode ser simplesmente pegar um velho paradigma, conceber outro novo e buscar adeptos a ele. Não são apenas práticas que precisamos mudar: são nossos valores. Não precisamos criar um novo padrão porque os padrões são burros, inibem nosso movimento e, algumas vezes, nos tiram a coragem de sermos diferentes e é dos diferentes, corajosos e competentes que precisamos. E esse, sim, é nosso tema: o talento que está nas diferentes competências.
Busca-se contratar pessoas talentosíssimas, com um histórico profissional forte, que estiveram nas melhores universidades e com experiência internacional para que, em sua primeira opinião - dependendo do cargo que ocupam - ou sejam tolhidas ou educadamente ignoradas e prevaleça o de sempre. Mas será que com o de sempre se pode mudar alguma coisa, ou é mais provável que, ao andar tanto em círculos, se cave o próprio buraco sem conseguir sair dele? Ah! O motivo para o buraco? Se isso acontecer rápido, será a crise.
"Ouvir" é a primeira palavra-chave para trabalhar de forma competente as diferenças naturais dos seres humanos. Ouvir os diferentes abertamente, sem julgamento de valores. E ser ouvida não é um sentimento muito presente no dia a dia das mulheres nas empresas. Homens e mulheres pensam diferente, não comparam pelas mesmas razões e não se comunicam da mesma forma e, assim, as análises seguem caminhos diferentes e isso é maravilhoso, produtivo e soluciona.
Mas, como sempre, o mundo muda e nós continuamos os mesmos, cheios de julgamentos, de valores e sentimentos arraigados que trouxemos de um passado que virou história, mas que não vai nos levar ao futuro. Contratar diferentes não basta a não ser que seja um zoológico e, mesmo assim, é preciso cuidar deles. E cuidar no mundo corporativo é também permitir.
Essa é a segunda palavra: "permitir". Ouça e permita que as boas ideias, as boas práticas de liderança e as novas formas de negociação sejam solidificadas na cultura da empresa. Em reuniões de diretoria, as mulheres são ouvidas, mas quantas de suas ideias são colocadas em prática? Somos diferentes e o impacto na estratégia empresarial é brilhante se utilizarmos isso corretamente, mas seguimos menosprezando. Pense e comece a prestar atenção na rotina de avaliações que se construiu, que chega sempre à mesma solução e ao mesmo "objetivo comum".
Se até aqui nada se compara ao que se vive realmente, vamos à terceira palavra: "atribuir". Ouvir e permitir são mais fáceis porque ainda se encontram no âmbito da autoridade e do paternalismo, mas atribuir é a chave. Nem todas as empresas atribuem o sucesso aos que realmente chegaram a ele. E se, nesse caso, a responsável principal pelo sucesso for uma mulher? O que lhes parece? "Parecer ser" não é mais o que se espera de uma empresa.
Chegamos à última palavra dessa diversificação real das soluções para os problemas: "alcançar". Não se alcança nada com os mesmos valores, as mesmas soluções, a mesma visão do que é importante e a mesma forma de pensar. A mudança leva os problemas mais rapidamente para o passado. E não se trata de ser homem ou mulher, mas de aproveitar o que existe de melhor em cada profissional. Não os levar a uma situação de igualdade; a homogeneidade nos traz mais dúvidas que soluções. Precisamos realinhar as empresas em torno das qualidades que existem nas diferenças.
Exercite o ouvir, o permitir e o atribuir utilizando talentos diferentes para alcançar as melhores propostas para que a crise fique longe da sua empresa. Em hipótese alguma meu objetivo é diminuir o tamanho da crise; é o oposto disso. É mostrar que quando utilizamos algo tão grande para justificar tudo em nosso dia a dia nos tornamos muito pequenos e nos sentimos de mãos atadas. Romper o presente e construir uma história nova, que revigore e que nos ajude a manter os pés no chão para que possamos caminhar é uma tarefa para corajosos e competentes, mas principalmente diferentes que trarão ideias novas, vida nova e esperança nova.